quinta-feira, agosto 30, 2007

Surpresa

Quando não se morre
um pouquinho a cada dia,
um rosto é somente um rosto
- humanamente feliz e belo!
Cara crua cor-de-rosa-chá,
explícita e vulgar.
Quando não se morre
um pouquinho a cada dia,
um dia é somente um dia,
e as noites selvagens
passam despercebidas pelos sentidos
- não se sente estrelas e lua-cheia
ardentes no céu da boca.
Não morrer um pouquinho a cada dia
é como dormir de luz acesa;
fumar e não tragar;
vencer tanto, vencer tão completamente,
a ponto de só restar
a agonia de se ter vencido sempre.
Não morrer um pouquinho a cada dia
é como o apego à rima;
é como assistir de camarote
essa orgia alucinante que é a vida;
é como nunca ter dado um tiro na boca;
é como dizer não suportar o mundo,
e suportar!
Quando não se morre
um pouquinho a cada dia,
um estômago é somente um estômago
- livre das borboletas e dos buraquinhos -
e a vida não é vida,
pois não haveria o novamente fecundar
se não houvesse o antes abortar
.



Para Duda Borba.

Um comentário:

Anônimo disse...

puta que pariu, amanda.
essa foi demais.