segunda-feira, novembro 03, 2008

Amor

Quero escrever como quem lança
tenro olhar sobre a áspera paisagem de dentro
- doce escritura desenhando-se, elástica,
ao redor dos meus lamentos.
À dura poesia darei todo o meu molejo:
frouxo, feminino, suado!
Sobre a carne podre pousarei
o espírito apaixonado.
Quero escrever para ser o instante exato
em que não se está terra,
nem se está alto.
Minha escritura: flecha que se lançou
mas ainda não fincou o alvo.
Sou vôo raso,
vivo entre o chão e o salto,
entre o perdão e o pecado.
Quero escrever para ser florzinha
murcha nas mãos do latifundiário.
Desejo escrever, sobretudo,
para enxergar amor aonde não tem:
palavra como estupro, não importa
- o bem e o mal se confundem,
e tudo isso é amor também.