quinta-feira, agosto 02, 2007

O Segredo

Eu sou superficial.
Não amo os homens,
não sinto saudade da família,
não tenho compaixão
pelos que estão cheios de ausência.
Eu sou superficial.
Vês esta carne
coberta de pele branca?
Sou isto, apenas isto,
e dentro possuo um vácuo,
um espaço de tempo que não existe,
que pode-se chamar também
de Nada.
Eu sou superficial.
Sou como o que dá pra ver
quando sentamos numa pedra
e observamos um rio
- superfície.
Não possuo planetas,
peixes, baratas, ideologias,
terras, planaltos, asfaltos, populações
dentro de mim.
Eu não carrego essas imensidões
dentro de mim.
Eu não sinto dor,
eu não sinto frio,
eu não me desespero,
eu não conheço o arrepio.
Eu sou superficial.
Eu sou a exatidão do ser,
eu sou a compreensão do estar.
Mas na minha mochila eu levo uma coisa,
uma raridade,
um segredo
- Eu consigo enxergar
no escuro.

2 comentários:

Kynismós! disse...

Mate-me uma imensa curiosidade, por favor, qual a sua motivação desses versos aí?

Até o tíluto me deixou assombrado.

O Amor disse...

Poema forte e belo. Gostei demais. Grande abraço, Poetisa!