sábado, maio 30, 2009

Violência

Um dia,
uma criança me disse
que a cor da violência
era escura
- escrevi negro,
sem atadura
(Há muitas possibilidades
de escrita
- eu escolho sempre
aquela que grita).

segunda-feira, maio 25, 2009

Falso Brilhante

Um dia, à tardinha,
se Deus me puser forças,
hei de escrever um poema.
Um poema fraco. Verdadeiro,
desses em que a gente se ilumina
- como se, ao bem escrevê-lo,
eu bebesse o sangue dos artistas.
Com a palavra risonha,
escreverei raso, escreverei bonito.
E escreverei fácil:
o verbo faceiro no lugar do grito.
Prometo escrever algo heróico:
falarei sobre guerras vencidas,
flores desabrochadas sob o sol,
amantes bem-aventurados
(benditos sejam os burgueses apaixonados)!
Hei de ser aquela que tem paz,
aquela que traz luz,
aquela que alimenta-se da fama.
Hei de escrever um poema são,
metricamente perfeito,
que rasgue a mortalha e rejeite a lama.
Hei de ir exatamente por aí:
estrada ladrilhada com brilhantes,
por onde o meu amor passa,
onde árvores frondosas adornam a paisagem,
onde a existência é rica,
e onde os passos de um homem não são
nada mais que os passos de um homem.
Uma tarde qualquer - eu prometo -,
se Deus me puser forças, mas hoje não!
Hoje sou escuríssimo coração.
Um dia serei a poetinha que desejam,
e gargalharei a vida, reprimida,
como quem esconde, na barriga,
o desespero.

quarta-feira, maio 06, 2009

O Parto

Escrever
É como estar habitada
E, num berro, parir.
Primeiro eu sinto
Que tenho tanto a dizer,
Depois eu digo
Que tenho tanto a sentir.