sábado, outubro 03, 2009

O Fantasma

Nosso amor morreu recém-nascido.
Ouço a escuríssima canção dos ventos:
a Marcha Fúnebre lamentando o meu lamento.
A vagina da mãe chorando, ainda sangrenta do parto.
O câncer no peito do pai
- medalha concebida pelo sofrimento.
Nosso amor se foi recém-chegado.
Um amor-menino: nossa pequenina desgraça.
As flores no túmulo
- o túmulo que é berço -
e a voz de um deus, lá longe, dizendo "tudo passa".
Nosso amor: germe que não germinou.
A mãe delira em febre, o pai entrega-se à cachaça.
Nosso amor: coisa que nunca coisou.
Morta, essa criança nos visita;
pálida, essa criança nos abraça.