sábado, janeiro 19, 2008

Entre nós,

a mãe que nunca pariu,
o mar posto em chama.

Eu sou Terra.
Escuta, Céu, a voz de quem ama:

se um dia
eu não puder gerar teu filho,
não reclama:
foi tua chuva que fez
meu ventre virar lama.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

?

Nunca saberei me mostrar inteira,
pois sempre tive
a carne flamejante aos pedaços.
Não sou o que sou hoje e soa,
sou hoje o que fui e o que serei
- cintilantes fragmentos de cetim
e boca vermelha rubricada na veia dos homens.
Espalho-me por entre os dedos
da brutalidade da qual me fantasio e,
vez ou outra,
troco de roupa para trocar de beleza,
como alguém que necessita urgentemente
encontrar-se nas profundezas
d'algum mar indecifrável.
Embaçada imagem minha diante do espelho,
distante de mim está minha legítima morada.
Que vestido habito, que anéis?
Que eu fui eu, que eu serei?
Eu... eu sôo pergunta.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Incêndio

Quando estive presa
na torre mais alta
do castelo da bruxa má,
o homenzinho louro
quis, gentilmente,
salvar-me.
Trouxe-me pedras raras,
contou-me suas histórias de valência,
falou-me cor-de-rosa
sobre o mundo desconhecido,
beijou-me a testa cautelosamente.
Fez-se príncipe lindo para mim
- logo para mim que,
não sabia ele,
cultivava o desgosto pelo belo
desde quando se perdeu minha coroa
nas tantas noites,
genuinamente prazerosas,
que tive com o dragão mau e feio,
mas cujas narinas incendiariam o país.