segunda-feira, agosto 13, 2007

Sem Fim

No dia em que o Menino nasceu em mim,
eu conheci o amor dos loucos.
O amor desprovido de licenças e gentilezas.
O amor que não fala - grita.
O amor que não pede - implora.
Quando ele entrou em mim
pela primeira vez,
ouvi aplausos, vaias, pessoas murmurando
sílabas desconhecidas aos meus ouvidos.
Era como se o mundo estivesse aqui comigo,
todo o mundo - com suas guerras e seus apelos.
E na verdade, não era o Menino entrando em mim,
era uma multidão de Meninos querendo cessar,
querendo consumar aquela loucura.
Eu nunca senti desejo por ele
- o amor que me habitava
era tão imenso, tão imenso,
que não sobrava espaço para o desejo.
Digo, inclusive, que o amor era maior que eu,
e que não cabia em mim
- escapava-me por entre os dedos.
Um olhar do Menino
era a luta livre dentro dos meus órgãos.
Uma luta sem final,
por isso mesmo, sem vencedor.
Era o ato, o verbo lutar, apenas.
Quando o Menino passava a língua no meu pescoço,
eu sentia a ponta do meu dedo do pé
sofrer as consequências.
E eram tantas consequências, Meu Deus,
que andar eu não podia mais.
E o tempo valsava quando eu estava com o Menino!,
e a Terra toda era uma criança,
e o medo não se instalava em mim.
Eu conheci o amor dos loucos,
o amor dos roucos,
o amor dos pálidos.
O menino estava sempre perto,
sempre ao meu alcance,
sempre dando o rosto pra eu bater,
sempre dando o corpo pra eu brincar,
sempre dando a carne pra eu morder.
O amor pelo Menino é
um bicho feroz que devora tudo que vê pela frente.
Sobe as escadas,
bagunça o quarto,
incendeia a casa.
É o amor que os pais não querem para os filhos;
o amor não compreendido
pelas pessoas
que não eu e o Menino;
o amor eternamente estudado pelos psiquiatras.
Quando eu morrer, provavelmente,
o amor não vai comigo.
Porque o amor é o inimigo
que fere, sangra, despetala.
O amor dos loucos nasce,
o amor dos loucos mata,
mas não morre nunca
este meu amor pelo Menino.

Um comentário:

Anônimo disse...

amando amanda.