sexta-feira, janeiro 05, 2007

Hora.

Madrugada!
Hora em que a fada
Cochicha em meu ouvido
Histórias dramáticas.
Hora em que eu tomo,
Num gole de gim,
A excêntrica pílula do vôo.
Hora em que eu recordo,
Sem lembrar de mim,
As tantas mulheres que sou.
Hora em que o gozo mais alto
Anima a minha sensatez
E a dor me faz tropeçar
Em buracos.

Madrugada!
Quando os homens se calam,
Eu grito.
Quando os anjos se perdem,
Eu atino.
Quando o tempo aprisiona,
Eu liberto.

Eu sou menina e sou menino.

É na madrugada
Que eu abro as janelas de mim
E assumo sem problemas
O meu romance secreto com a cortesã
De nome Poesia.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A minha morte!

Eu me sentei assim meio de lado, em posição desconfortável, para tentar fazer chorar minha coluna. Fiz três furos em minha barriga, joguei álcool, não assoprei. Revi fotos, reli cartas, calcei as botas da rua e caminhei de volta ao meu passado sombrio. Maltratei-me como um maníaco em busca do gozo pleno. Raspei meus cabelos, rasguei minhas roupas, estuprei-me. Rolei em chão áspero, não respondi às minhas perguntas. Não conversei com Deus, queimei poemas, arranquei meus pêlos, um por um. Parei a música, esqueci os homens, não pisquei os olhos, deixei apodrecer meus dentes. Eu estava completamente feliz, assim, rindo à toa, mas desejava o mais cruel sofrimento. A felicidade sempre me enfadou. Então me joguei do décimo quinto andar. A queda, sim, doeu bastante. Eu sempre preferi morrer de dor a morrer de tédio. É uma morte mais, digamos, emocionante.

Furacão.

Eu abria os meus caminhos para os mais feios
Os feios também têm coração
Eu abria o meu coração para os sem caminho

Eu rompia com o mundo em nome dos fracos
Eu não sabia que se dar tanto doía
E abriguei os sem lar mais do que cabia

Eu era pequena e desconhecia
Deformei meu rosto em queda macia

Engoli o tempo! - esta pílula do entendimento
E enfim entendi
Que não apenas de borboletas vive uma barriga

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Morte.

Pintei o céu de preto
Sequei o mar
Mandei cair uma chuva
Parei o ar

Devastei as matas
Desgracei a vida
Aprisionei os pássaros
Feri a ferida

Fui-me tornando fria
Frígida e calculista
Aos poucos, tornando-me espada
Da guerra contra a paixão

Não estanco, deixo sangrar
Não durmo, desisti de sonhar
Um tiro na boca foi a solução
Odeio você
Como quem morre de amores vãos.

Ode ao amor.

Oh, Divina criatura
Feita de mel
Dilacera e cobre o meu peito
De amores, vultos no céu

Oh, instante em vapor
Colore o meu rosto flácido
Emancipa as línguas oprimidas
Deixa-as livres no Lácio

Esgota de ternura e sonho
A paz que eu ofertei
Colhe as flores do medo
Limpa o jardim que habitarei

Toma forma feminina
Com toda sua grandeza
Faça-me amigo íntimo da carne
E amado amante da natureza.