quarta-feira, dezembro 27, 2006

Anticristo

Sabes o que mais me põe medo? Esses teus olhos. Esses olhos que carregam mil garças sedentas de vôo, no céu d'algum lugar que está longe de ser chamado de Paraíso. Esses olhos que beiram o real pecado, e que fortalecem o gozo e antecedem a agonia de todos os pecadores.
Sabes o que mais me põe medo? Essa tua boca. Essa boca que diz e retira o que disse, que mente e cega quem da tua língua prova, embriagando os apóstolos de Cristo do vinho barato que Ele jamais ofertaria aos seus irmãos. Essa tua boca que, junto aos teus olhos, provocam a maior conflagração que a humanidade já viu.
Sabes o que mais me põe medo? Essas tuas mãos. Essas mãos que não se envergonham de passear pelas ruas do meu corpo, desnudas, desvirtuando os homens de bem e corrompendo todos os meninos virginais que elas encontram pelo caminho. Essas mãos que, sem hora e sem bússola, terminam por chegar à casa do delírio, inaugurada no momento de sua chegada. Essas mãos que, junto à tua boca e aos teus olhos, provocam a maior conflagração que a humanidade já viu.
E, de tanto temer, eu tenho a força: o pedaço de carne que és, desmistificando qualquer doutrina espiritual e transformando este pobre ser humano que sou em uma orgia vulgar de corpos nus, fazendo de mim um revolucionário de fantasia solta, um Grande, que descobriu e fundou, quase sem querer, a maior e mais nova religião de todos os tempos, chamada Amor.

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