quinta-feira, dezembro 04, 2008

sobre o tempo líqüido do amor

Agora és somente
a escura e suja sombra do que foste.
Cambaleias,
enquanto eu
- dura flor menstruada -,
muito do que fui ainda sou.
Passaste como passa o passarinho,
tão pobrinho,
sangrando devagar, gota a gota.
Eu sou a guerra que resiste às horas;
eu não sangrei: eu-sangue sempre agora.
Tens apenas
o resto do orvalho na pétala da carne
(o tempo te seca, do teu pranto fica as pedras de sal),
enquanto eu
- eu suo chuva o tempo todo; eu (a)temporal.
Das águas que fomos,
sobrou a lama feita de dor.
Agora é somente
a escura e suja sobra do amor.

6 comentários:

Natália Nunes disse...

"eu-sangue sempre agora."


bonito demais!
não só o trecho que destaquei, mas tudo, tudo. vc me arranja uma expressões novinhas e tão gostosas... adoro :D

Anônimo disse...

Desculpa a invasão, não te conheço, mas adoro o toque feminino nos teus poemas, não frágil, mas feminino. Já li algumas outras coisas, só agora deixo esse comentário. Gosto, pois flui.

Anônimo disse...

esqueci de colocar o nome: Kim

Bernardo Sampaio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bernardo Sampaio disse...

eu me lembro ter te dito uma vez que encontrava uma coisa feminina na tua poesia tão característica e tão bonita. é sempre forte isso. e bonito. esse amor liquido, que tu mostrou ser água e depois lama, coube direitinho nessa atmosfera toda. belíssimo. :)

No Silêncio das Montanhas a Linguagem dos Ventos disse...

sem palavras..mas com amor...
leio com amor..porque ele dessas palavras transborda como raios!

admiro muito sua arte!

xerus de Flor