terça-feira, dezembro 16, 2008

De Mulher

A minha fortaleza transforma-se em líqüido e vai-se embora pelo ralo. Ele trouxe para as minhas pernas essa fraqueza de mulher e para a minha vida essa estupidez gostosa de sentir - durante o dia sou sua fruta podre adormecida debaixo d'árvore; durante a noite sou sua fruta ainda azeda de tanta juventude. Meu homem! Encho-me de fôlego e digo - com a voz rasgada em retalhinhos -: "Meu homem"! Como é bom dizer assim que este homem, que traz nas veias urina e mel, é meu. A desgraça ganha outra forma, como se florisse em terra árida. Ele, desajeitado, bebe todo o meu leite, e eu pasto sobre seu lençol. Se a agonia tivesse cor, seria a cor dos meus olhos quando ele bate a porta e vai. Vai para onde? Ñão sei. Sei que cada instante da espera é sagrado, pois é feito de sufocante paixão. Seu bigode chupa meu veneno - seu bigode, não sua boca. Ele não é a boca, os olhos, o corpo dele... ele é o bigode dele, grosso e moreno. Seu bigode chupa, arranca o eu cruel, e depois cospe. Tomo isso como prova de amor, pois ele arranca o pior de mim e depois joga fora, deixando-me tão boa para ele enquanto ele permanece tão mau. Não sei ser outra coisa que não sua frutinha. Não sei desejar outra coisa que não seus beijos ardidos de cebola, suas mãos castigando-me pelo crime que não cometi. Pela manhã, começam a me doer os ossos. Preparo o seu dia como quem prepara o lanche do filho (como eu queria que ele coubesse dentro de mim e dentro de mim ficasse para sempre...) Encosto minha boca na sua, delirando de velhice. À noite não enxugo a testa e, assim, deixo que pinguem todos os suores do desejo: eu desejo a inundação. Antes de dormir, ajeito meu sonho de forma que possa caber dentro do seu. Ele: o homem mais bonito; o lobo traidor; a cruz de outro pendurada no pescoço; a meia-noite de qualquer madrugada. Eu: sua mulherzinha.

Tamanho é o meu prazer ao vê-lo, satisfeito, lambuzar-se da comida que eu - não outrinha, mas eu -, com tanto gosto, preparo.

3 comentários:

iza mendonca disse...

Maravilhoso. Simplesmente maravilhoso.

Anônimo disse...

Uia!

No Silêncio das Montanhas a Linguagem dos Ventos disse...

"Ele, desajeitado, bebe todo o meu leite, e eu pasto sobre seu lençol"

*Nós mulheres,pastando entre o alimento homem...erguendo os seios para a inundação fértil!


"Não sei ser outra coisa que não sua frutinha. Não sei desejar outra coisa que não seus beijos ardidos de cebola, suas mãos castigando-me pelo crime que não cometi. "


*Nós arriscamos as raízes,os jardins e as flores..porque queremos ver noss fruto na boca do homem,na boca de sua noite menina..

"Preparo o seu dia como quem prepara o lanche do filho (como eu queria que ele coubesse dentro de mim e dentro de mim ficasse para sempre...) "


*E como queremos esta comunhão os sentidos..como queremos ser o sono e o sonho de nosso amor...queremos conceber em nosso ventre os delírios e devaneios da paixão...


"Ele: o homem mais bonito; o lobo traidor; a cruz de outro pendurada no pescoço; a meia-noite de qualquer madrugada. Eu: sua mulherzinha.

Tamanho é o meu prazer ao vê-lo, satisfeito, lambuzar-se da comida que eu - não outrinha, mas eu -, com tanto gosto, preparo."


*Nosso prazer é ser a lua,o prato,o grito e o diabo do nosso homem...nosso amor exasperado!

tão lindo e perfeitamente real o que escreves querida...perfume de um feminismo entranhado nos dedos...

xerus DE fLOR