sexta-feira, outubro 26, 2007

Madalena

Vês aonde cheguei por ti?
Agora entrego-me à brutalidade
de um cão faminto.
O caminho que escolhi
não foi o mesmo que percorri,
e hoje sou tudo o que eu neguei.
Às ruínas d'alma me lançaste,
com essa tua língua áspera me empurraste
para o mais que humano de mim.
Conheci o líquido da verdade
que tanto me ofereceram
e eu nunca bebi.
Igualei-me ao sem escrúpulos,
fundei outra religião poética,
mendiguei um bocado de amor.
Maldita paixão a dos desgarrados,
dos devoradores, dos emancipados,
dos homens sem lei.
Malditas coxas das quase-mulatas sestrosas,
flores da lascívia cheirosa,
santas no altar dos sem-deus.
Eu renasci nos teus precipícios,
menina de curvas e abismos,
Oh, para sempre amada.
Agora que me despi
e desci à condição de réu,
agora que falo a língua dos homens,
espero, qual Cristo,
a crucificação.

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