segunda-feira, setembro 24, 2007

Quase Nada

Quase nada cabe em mim.
Não fosse a pequenez
de minha esperança,
nada caberia. Mesmo.


Eu sou apenas a criança feia
debruçada na janela
assistindo a imensidão do mundo
- imensamente grande para ela!
Com seu corpo pequenino,
suas mãos trêmulas,
a criança emenda um balé de espera.
E vive somente para que,
um dia, talvez,
alguma coisa consiga adentrá-la
- nem que seja o olhar de um cão.
E ela cai e levanta;
se perde nos labirintos d'alma
e se encontra.
E morde os dedos,
fuma um cigarro,
corre com os lobos em círculos,
luta, fere, cansa
- mas ainda não cresce, não adianta.
E ela tenta...
C'os olhos cheios de dor
ela agüenta!
Com o sertão rachando a garganta
ela suporta!
Se rasga e se dana,
chora cachoeiras esta criança.
De repente, de tanta briga,
ela estica.
Elástica e cruel ela cresce
e torna-se uma coisa assim absurda:
maior que a fome,
maior que o amor,
maior que Deus.
E o mundo, em sua palma da mão,
não passa de uma bolinha de gude.
Eu sou apenas a criança feia
que cresceu.


Não caibo em quase nada.
Não fosse a imensidão
de minha poesia,
em nada eu caberia. Mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tuas palavras são muito alma.