domingo, setembro 30, 2007

Qualquer Coisa

Olhei tua barriga
- uma vontade de caber ali dentro...
Quero ser o teu sofrimento;
desejo ser o teu parto.
Quando pego teu revólver e me mato,
é na esperança de ter teu afago.
Um afago bandido, eu sei,
mas ainda assim um afago
- de braços mornos, passos largos.
Eu quero ser o que te fere e cansa,
mas que não abandonas nunca - esta criança!
que, no fundo, quer teu sorriso
como abrigo
e tua lágrima
como descoberta.
Eu quero ser tua ferida aberta.
Eu quero ser teu filho indo embora,
batendo a porta, desajustando a casa;
morando longe, num lugar cheirando a lixo.
Eu quero ser teu bicho
- teu lobo sedento e pálido.
Mas se não quiseres ser, assim,
meu namorado,
eu posso ser, assim,
irmã abandonada e nua.
Eu faço qualquer coisa
para ter em mim
qualquer coisa de tua.

Um comentário:

Anônimo disse...

O que a gente não faz por amor, hein?