sábado, abril 21, 2007

Morrendo

Se é pra morrer,
quero morrer direito.
Quero morrer cheio de morte,
quero morrer direito.
Morrer cheio de vida
é coisa de gente covarde.
Quero morrer num ato alérgico,
um edema de glote fatal.

Dá-me os teus sentidos:
sentes o pulsar em mim?
Pois é, não quero morrer assim.
Quero morrer quando tudo parar:
os dias, as noites, as festas...
quando tudo parar,
nunca morrer aos poucos.
Quero encher-me de coisa suicida.
Quero morrer até quando forem
morrendo as coisas suicidas.

O ar, o espírito, o paraíso;
que não sobre nada,
quero morrer direito.
Os pássaros, as virgens, o silêncio.
Quero morrer quando até a morte morrer.
Quando tudo morrer,
inclusive o poema.

Morri.

Nenhum comentário: