Suas mãos magras e trêmulas de poeta
seguravam firme a pá de ferro.
E num instante oco do espírito,
cravou em meu peito reto.
Achei-a grosseiramente má
(parecia odiar-me tanto!),
mas aceitei a condição de invadida
e deixei-a fazer seu trabalho.
Foi cavando
com olhos espertos de "agora você vai ver...".
Cavando, cavando, cavando...
Preparando as terras de mim
(talvez planejando alguma vegetação),
co'a boca contemplando
o que estava por descobrir.
E num momento
- lá no fundo do meio do mundo de mim -
senti-a arrancar-me a voz do peito,
sem luva ou proteção,
com a dor sangrando aos litros.
Veio mostrando-me, com o pulsante em mãos:
"- Olhe, querida, aqui está seu coração".
Descobri-me.
Para Clarice Lispector.
quinta-feira, abril 19, 2007
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