domingo, maio 18, 2008

Pedaço de Mim

Defenderei os meus romances até o inevitável instante em que se pronunciará o meu último suspiro. Defenderei sim, pois em meus romances, bebidos sempre até a última gota, tornei-me tão minha, tornei-me tão eu, que, depois de algum tempo, pude perceber que amar profundamente alguém se tornou amar, de uma forma duplamente profunda, a mim mesma. Apaixonar-se é mesmo como se sentir inteira. Quando esta paixão me é recusada - dando-me a impressão de que há, sim, uma parte exilada do corpo -, eu adivinho o segredo: o aleijão é justamente o que torna a existência completa. É assim como a mãe que pariu - Experimentar todas as desgraças do filho, o filho que já não é mais um membro seu, faz dela muito mais mãe do que quando ela o carregava no ventre. Amar é se reconhecer: olhar-se no espelho e enxergar o outro, ou ver no outro o seu reflexo. Todo esse cheiro de loucura que o amor exala é, na verdade, o cheiro do meu dentro borbulhante. Amar é justamente deixar-se borbulhar, deixar-se ser taça de champagne circulando nas mãos dos homens, dos homens maus, com a infinita garantia de que, mesmo sob todas as desventuras, até mesmo quando a morte vier beijar os meus pés, eu continuarei sendo sempre a mulher que ama. Defendendo os meus romances, estarei erguendo a minha própria defesa: os meus romances são o pedaço de mim que eu fantasio de história; o grito sólido de amor pela minha própria pessoa.

2 comentários:

Vanessa de Moraes disse...

Como diria Drummond: "Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo".Apenas o amor nos enobrece e nos torna grandes. Não somos melhores por sermos mais bonitos,mais inteligentes ou mais ricos. Somos seres humanos melhores se tivermos a capacidade de amar infinitamente e sem poréns os nossos semelhantes. Sigamos o exemplo do mestre Vinicíus , pois nada melhor para a saúde que um amor correspondido.

Marina Moura disse...

o meu amor sempre rima com dor.
Sempre tive a impressão de que se minhas dores fossem embora, não sobraria nada de mim.