Era como se eu gozasse pálido, parisse vento, apenas por necessidade de praticar humanidade. Ato alérgico, só para que eu não usasse o colar de contas como instrumento de suicídio. Apenas a vontade de espantar o jejum, porque somos todos bichos, bichos, bichos... Não houve amor. Não houve o desejar-aquilo-que-não-se-tem, tampouco houve o já-se-tem-tudo, já-se-é-repleta. Não houve o ápice, as estrelas ardentes no céu-da-boca, a víbora comendo o tornozelo, as pernas, o sexo, os cabelos..., não houve sequer o leão escondido na barriga, nem a carne flamejante aos pedaços. Não houve os filhos habitando em cambalhotas a pacata vida do ventre: não houve nada pelo qual eu sempre clamei. Se somos todos filhos de um amor breve e suado, não houve o que fizesse pingar, como se eu transpirasse pó. As pessoas me soavam miseráveis, ainda que gostosas em sua miséria, e eu as penetrava devagar na esperança de qualquer arrepio. Eu procurava nestas crianças douradas qualquer susto com o qual eu pudesse viver eternamente, e me era dado em troca flores murchas quase despetaladas: o mundo era um imenso coito interrompido. Misericórdia, cego deus, à estes meninos e meninas que ainda comem esta prostituta coberta de lantejoulas de nome Carnaval. Eu não. Eu como a minha própria placenta.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
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4 comentários:
Tem estilo.
Assim mesmo resumidamente.
muito, muito bom.
Realmente o carnaval é prostituído, infelizmente! Mas essa conotação lúdico-mórbido-literária - só você poderia dar!
Giba Carvalheira!
nÃO TEM COISA MELHOR DO QUE UM:
PUTA QUE PARIU!
rsrsrsrsrs
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