terça-feira, novembro 06, 2007

Eclipse

Estou sentindo
uma extraordinária vontade
de me comer,
parte por parte.
Beber-me até a última
gota de sangue;
devorar-me até não restar
sequer a sombra de minhas vísceras
- como um astro some
quando há eclipse. serás
o observador de meu desaparecimento.
Uma vontade não de morte,
mas da fração de tempo que há
entre a vida e a morte,
aquele nada
que não é aborto
nem é fecundação
- como quando o mágico do circo
faz sumir a mulher no caixote.
Quero conhecer de perto
este absurdo que é
devolver-se ao próprio ventre,
como se antes nada existisse
e como se o depois fosse um outro mundo,
longe e inatingível.
Estou sentindo
uma extraordinária vontade
de me tornar miúda, tão miúda,
a ponto de ser aquele pedaço
de coisa imperceptível
- nada de mágico, nada de trágico,
apenas a beleza da não-existência.
Devorar-me tanto, devorar-me tão completamente,
a ponto de me tornar
o meu próprio conteúdo gástrico.
E depois, só depois
- já uma outra mulher -,
vomitar-me toda,
em noite de lua-cheia,
uivando aos homens:
"Cheguei"!

5 comentários:

Anônimo disse...

fantástico.

Anônimo disse...

ah, foi eu ai em cima.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Fia, tá no rato?
tanto homi, tanta mule e tu fica si cumenu?

COMI EEEEEEEEEU! \O/

Anônimo disse...

Fuderoso demais!