quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Um só riso.

O sorriso dela me foi tiro de canhão.
Sorriso que mandava em tudo.
O sorriso era patrão da boca,
patrão dos olhos,
patrão do tecido epitelial.
Era um sorriso-carne que encharcava
minha visão de menino aprendendo a sonhar.
O sorriso dela dizia: "Pare!",
eu parava.
Depois dizia: "Ande!",
e quem era eu para contrariar?
Um sorriso assim frouxo, assim largo,
assim senhor.
Não apenas um sorriso,
mas um sorriso de verdade.
Eu entrei no sorriso dela,
afrouxei a gravata,
cochilei no sofá.
E quando, por agonia, tentava fugir,
a dona gargalhava.
Hoje sou um morto morador do sorriso dela.
Moro e morro no sorriso dela.
Para sempre minha mortalha:
Um sorriso assim dente, assim gengiva,
assim casa.

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