quarta-feira, setembro 24, 2008

O Estrangeiro

Vou ao centro da cidade
e abraço irmãos
- mas são esses que possuem
a irreversível miséria humana.
Mergulho em copos, corpos, coisas
- os copos vazios,
os corpos magros demais,
as coisas putrificadas.
Cintila a minha dentadura
em truculentos sorrisos
- pobre de quem me vê
e pensa que sou uma adoradora!
Seguro no pêlo dos homens
e lhes beijo a boca
- no entanto sua língua
é coisa pouca.
Eu tenho dentro de mim
um vazio duro, maciço,
como se buraco fosse bolo
de matéria sólida.
Dentro do meu corpo
este corpo estranho
que, em sua rígida permanência,
já é coisa familiar.
Essa ausência
- minha irmã adotiva e única.
Essa desavença
- Mundos os quais habito
e suas línguas que não sei falar.

2 comentários:

Marina Moura disse...

Não fala a língua materna, e no entanto toca as línguas pra disfarçar a postura marginal de não-pertencer, como orfã convicta.

Lindo, lindo, amanda bonita =)

Bernardo Sampaio disse...

Eu acho legal que nas tuas poesias eu vejo aquela coisa bem feminina que as vezes eu gostaria de fingir e colocar em primeira pessoa em algum poema.

São lindos teus poemas.
:)