terça-feira, abril 08, 2008

(In)sanidade

Se somos filhos do desamor - da união incrédula e infiél, onde há somente o desejo dos dentes cravados na carne -, somos filhos da loucura, pois não há maior delírio que o de se entregar sem alma. Se somos filhos do amor - da união de espíritos numa noite medonha de estrelas ardentes no céu-da-boca -, também somos filhos da loucura, pois não há maior delírio que o de abandonar cárceres em nome do vôo e em seguida enjaular-se novamente em novo mundo. Querida, vês? Não há, portanto, quem se salve das alucinações bandidas: qualquer alucinação, ainda que, por vezes, roube os nossos sentidos e incendeie a nossa morada - ainda que nos apunhale pelas costas -, qualquer alucinação nos devora: tanto, tão completamente, que nos resta aceitar a condição de que crescemos em seu útero e em seu útero quente de mãe macia permaneceremos. De uma forma ou de outra, somos mesmo doce fruto d'alguma loucura, como suco escorrendo pelo queixo da menina no instante em que ela morde a ameixa roubada da árvore da vizinha. E é preciso que toda loucura seja honrada - não perdoada, pois não há natureza que necessite perdão.

Um comentário:

Marina Moura disse...

somos filhos do medo.
medo na hora escura dos nus, medo do parto doído, da criança natimorta.
somos filhos do medo de ser louco.


ah! você traz um pouco dos meus escândalos :D