Você, solto dentro de mim,
feito um bicho.
Você me roendo a cor dos olhos,
sim, e também os mamilos
- o leite azedo que jorra dos mamilos.
Você me roendo a música clássica
que o coração executa.
Você roendo os ruídos da minha festa,
a fogueira na qual me ardo,
a lama nos meus sapatos,
o meu beijo de morte.
Roendo também a minha sorte.
Você me roendo o cetim da roupa,
os dias sangrentos, as noites úmidas,
a triste espera por um milagre,
o pão, a poesia, os homens, o Deus.
A sua língua roendo a minha linguagem,
os dentes afiados do meu cão,
minha sombra, meu pecado, minha redenção,
você roendo você - que também é parte minha.
Feito um bicho que rói
e também ilumina,
você vai me roendo
e vai me iluminando:
tornando cheio o vazio que fica
- dando à minha miséria
a grandeza de se saber miserável.
domingo, agosto 16, 2009
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