terça-feira, janeiro 06, 2009

O Outro Silêncio

Apavora-me o silêncio. Não o silêncio que também é som, agudo, solto nos ventos da madrugada. Não o silêncio amante que nos põe cansaço, depois sono, depois sonho - o amigo risonho que nos embala. Outro me apavora. Não falo do silêncio da resposta de Deus, pois, ainda que silenciosa, há, em nuvens chumbadas, uma reposta (é só plantar ouvidos no sangue e ouvir, somos todos pequenas partículas Dele). A mudez d'um afeto, por exemplo, grita mais alto que a palavra. Não acho que o silêncio de uma casa abandonada seja silêncio: deve ser a única forma que ela encontrou de dizer a escura dor do abandono. Uma criança, quando olha, não apenas olha - e não é preciso ser alguém dotado de demasiada compaixão, sensibilidade ou fantasia para perceber que alguma coisa ela fala. Esse silêncio, definitivamente, não me preocupa: é de fácil convívio com os homens, é de grandiosa intimidade com o ser, e até nos ajuda a sobreviver. O silêncio do qual tenho medo não há de ser coisa concreta tampouco coisa nomeada... Uns vivem mortos, como fosse a vida um eterno pacto com o amanhã; outros morrem vivos, como fosse a vida um pacto com a eternidade - eu estou ardendo entre essas duas espécies de gente, gorda ou magra demais para nelas caber. Eu estou verdadeiramente calada, como os poucos que carregam dentro de si um vazio de coisa, um silêncio mal-assombrado. Como fosse a vida um confuso pacto com o Nada.

2 comentários:

No Silêncio das Montanhas a Linguagem dos Ventos disse...

psiuuu!!!
silêncio!!!
permissão apenas...
aplausos!

Flor

Fred Delgado disse...

Pôôô....

:O

...

:*