quarta-feira, setembro 24, 2008

O Estrangeiro

Vou ao centro da cidade
e abraço irmãos
- mas são esses que possuem
a irreversível miséria humana.
Mergulho em copos, corpos, coisas
- os copos vazios,
os corpos magros demais,
as coisas putrificadas.
Cintila a minha dentadura
em truculentos sorrisos
- pobre de quem me vê
e pensa que sou uma adoradora!
Seguro no pêlo dos homens
e lhes beijo a boca
- no entanto sua língua
é coisa pouca.
Eu tenho dentro de mim
um vazio duro, maciço,
como se buraco fosse bolo
de matéria sólida.
Dentro do meu corpo
este corpo estranho
que, em sua rígida permanência,
já é coisa familiar.
Essa ausência
- minha irmã adotiva e única.
Essa desavença
- Mundos os quais habito
e suas línguas que não sei falar.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Acidente

Bebo-te como a uma mãe
- És desastre de onde eu tiro
o mais sagrado alimento.
Eu sou tua estupidez,
tua burra flor da idade,
renasces em meu nascimento.
Tu me arrebentas
- Eu, o teu rebento.
E o amor desafia em silêncio
o absurdo do tempo;
e o amor grita mudo,
entre o ser nada e o ser tudo
e, assim, ser violento.